Era uma tarde ensolarada, quando eu caminhei com determinação ao hospital e contei para Gabriel que eu estava com HIV e que era provável que ele estivesse infectado também. Os fatos que se seguiram não foram nada bonitos. Primeiramente Gabriel achou que era uma brincadeira minha, demorou um tempo muito grande para ele acreditar que não era uma piada. Depois ele me mandou explicar tudo. Eu disse que não tinha como eu ter certeza, mas que eu achava que tinha sido o menino skatista que tinha me contaminado. Tentei explicar para ele que a situação toda estava sendo muito difícil para mim também.Ele não quis ouvir desculpas nem explicações, me expulsou do quarto, disse que sentia nojo de mim e que nunca mais queria me ver.
Eu saí do hospital com o rabo entre as pernas. O peso do mundo inteiro nas minhas costas, o amor de Gabriel era o que me sustentava, eu não sabia se teria forças para continuar lutando contra o HIV se eu não estivesse com ele.
Passei a noite contemplando a rua da janela.
Vire-e-mexe vinha pensamentos sinistros na minha cabeça, de repente pular da janela do 9° andar não parecia mais uma idéia absurda. Eu olhava o chão lá embaixo, seria um jeito tão fácil de pôr um fim nisso tudo, não teria mais que pensar nos meus pais brigando, não teria mais que pensar no ódio que Gabriel estava sentindo de mim, não teria mais que pensar no HIV, não teria mais que ficar esperando com medo a AIDS chegar.
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